A guerra entre os launchpads de memes, protagonizada por pump.fun e Letsbonk.fun, conquistou um espaço de destaque como uma das narrativas mais atraentes do setor cripto este ano. Já no início de setembro, a pump.fun retomou a liderança nessa disputa acirrada.
O ponto de partida desse conflito foi o desempenho da pump.fun ao longo de 2024 e nos meses iniciais, que inspirou diversas equipes a tentar aproveitar essa onda de oportunidades.
O cenário ultrapassa a simples concorrência entre plataformas de emissão de ativos: com o lançamento do PumpSwap, a pump.fun elevou a disputa para uma rivalidade completa entre plataformas de emissão e negociação, enfrentando de frente o domínio da Raydium.
Pump.fun e Raydium mantiveram durante muito tempo uma relação de cooperação estratégica. Antes da existência do PumpSwap, a pump.fun era referência na emissão de meme coins, e qualquer novo token que atingisse US$69.000 em capitalização migrava para negociação na Raydium.
Esse modelo de migração gerava dúvidas, especialmente para iniciantes, devido à diferenciação entre mercados “internos” e “externos” — pois o mesmo ativo ficava com dois endereços de contrato distintos pelas transições entre plataformas.
O ano de 2024 marcou um momento importante dessas plataformas. Segundo dados da Blockworks, a Raydium alcançou receita de cerca de US$160 milhões em taxas de negociação — mais de cinco vezes o montante de 2023. Apenas as negociações de meme coins corresponderam a cerca de US$145 milhões, mais de 90% do faturamento anual da Raydium. Desse valor, tokens emitidos pela pump.fun geraram US$62,5 milhões, representando 43% da receita com memetokens e 39% da receita total da Raydium.
Para a Raydium, a pump.fun funcionou como uma fonte acelerada de liquidez inicial, enquanto a Raydium capturava valor nas negociações subsequentes. Ambas se beneficiavam do funcionamento conjunto desse ecossistema.
Essa relação colaborativa perdurou até o fim de fevereiro.
No dia 24 de fevereiro, um usuário do Twitter identificou que a pump.fun estava testando sua própria pool de liquidez via AMM. No dia seguinte, o principal colaborador da Raydium, @0xINFRA, publicou uma thread extensa e crítica, ressaltando o papel da Raydium na ascensão da pump.fun, defendendo a independência da Raydium e registrando a análise incisiva:
“A pump.fun substituir a Raydium pelo próprio AMM é uma estratégia equivocada.”
Ao CoinDesk, @0xINFRA afirmou que a separação não prejudicou totalmente a Raydium, mas levantou ressalvas sobre a pump.fun: “Todo novo AMM enfrenta sérios desafios, incluindo falta de estrutura, baixa demanda de migração de tokens e queda no volume de negociações.”
O reflexo imediato foi uma queda brusca no valor do token Raydium, com $RAY despencando quase 30%, indo de US$4,20 para abaixo de US$3. O movimento negativo durou até meados de abril, quando a cotação chegou a cair para US$1,50.
Em 21 de março, a pump.fun anunciou oficialmente o PumpSwap, eliminando a divisão entre pools internas e externas para negociação de seus tokens. Dois dias antes, em 19 de março, a Cointelegraph reportou que a Raydium estava prestes a lançar seu launchpad denominado LaunchLab.
A Raydium só divulgou seu anúncio em 16 de abril, quando o LaunchLab foi finalmente lançado.
Os grandes beneficiários do boom das meme coins na Solana em 2024 passaram a disputar territórios, com cada um invadindo áreas dominadas tradicionalmente pelo outro.
Por que, então, o LaunchLab da Raydium não conquistou o protagonismo na disputa, e a principal batalha se dá entre pump.fun e Letsbonk.fun?
A resposta está na origem do Letsbonk.fun, que foi construído usando o “Plug & Play SDK” da Raydium — tornando-o, na prática, uma versão customizada do LaunchLab da Raydium.
Dados do Defillama apontam que, em abril, maio e junho, o PumpSwap superou a Raydium em receita total e líquida de taxas. Mas, em julho, com a ascensão do Letsbonk.fun sobre a pump.fun, a receita total mensal da Raydium cresceu 2,76 vezes em relação ao mês anterior, e os ganhos líquidos saltaram para 4,66 vezes. Já os totais de julho do PumpSwap ficaram em torno de 30% da Raydium, com receitas líquidas equivalendo a somente 18%.
A pump.fun tem investido na divulgação de tokens do seu ecossistema no Twitter e criou a Glass Full Foundation para compras diretas de tokens. O êxito do PumpSwap como ambiente de negociação está diretamente ligado à plataforma de emissão da pump.fun, já que, hoje, o PumpSwap depende fortemente dos tokens que ele mesmo gera.
Mesmo com as dificuldades do mercado de memes, tokens impulsionados pela pump.fun mostram estabilidade em meio à volatilidade do universo cripto. Exemplos como $USDUC, $NEET e $TOKABU figuraram por períodos na faixa de US$1 a US$3 milhões em valor de mercado, garantindo oportunidades para entrada antes de atingirem patamares acima de US$30 milhões.
Na última semana, a pump.fun anunciou a atualização “Project Ascend”, apresentando o sistema Dynamic Fees V1 — uma ruptura com o antigo modelo de taxas fixas. Agora, as taxas para criadores variam conforme o valor de mercado dos tokens: projetos maiores pagam taxas menores, enquanto tokens de menor porte arcam com taxas mais elevadas. O objetivo é estimular o desenvolvimento sustentável, privilegiando o crescimento de longo prazo dos projetos.
Estrutura da PumpSwap para taxas e pagamentos a criadores, por faixa de valor de mercado.
O Dynamic Fees V1 vale para todos os tokens PumpSwap, novos e antigos, sem alterar a distribuição das taxas para o protocolo e provedores de liquidez. Em projetos sem criador (“abandonados”), as taxas vão para a comunidade. Projetos CTO podem solicitar taxas de criador e a Pump.fun promete acelerar esse processo.
Segundo a pump.fun, esse novo modelo pode multiplicar por dez os ganhos de criadores. Os que constroem ecossistemas de tokens bem-sucedidos agora podem receber taxas recorrentes de negociação, sem precisar vender suas participações. Essa evolução é um passo decisivo para combater os tradicionais esquemas de “pump and dump” entre memecoins.
A pump.fun avança com o conceito de “CCM” — Creator Capital Markets. Seja estimulando a participação de streamers ou buscando soluções para sustentabilidade do mercado de meme coins, o objetivo é atrair criadores de conteúdo de plataformas como Twitch e TikTok, fomentando uma economia que conecte Web3 e Web2.
Do outro lado, o Letsbonk.fun aposta numa abordagem diferente. Em 1º de setembro, o perfil oficial da WLFI no Twitter (X) anunciou a chegada do USD1 na Solana, promovendo a ideia de um dólar digital instantâneo, sem restrições e acessível mundialmente. O USD1 é respaldado por reservas na proporção 1:1 e, já no seu lançamento, estava integrado à Raydium, BONK.fun e Kamino, trazendo stablecoins digitais para os mercados de capitais online. O perfil BONK.fun no X revelou que atua como launchpad oficial do USD1 da WLFI na Solana.
Recentemente, o token principal do Letsbonk.fun, $USELESS, foi listado na Coinbase. Essas conquistas mostram a capacidade do Letsbonk.fun de reunir recursos e aproveitar sua bagagem acumulada no ecossistema Solana.
Cada plataforma investe em uma visão exclusiva, explorando suas principais competências. O futuro mostrará qual caminho será vencedor.
A guerra dos launchpads de memes teve início real quando pump.fun e Raydium migraram da parceria para a disputa. Embora o embate aparente seja entre pump.fun e Letsbonk.fun, na essência são pump.fun com PumpSwap versus Letsbonk.fun com Raydium.
Esse confronto estimula avanços concretos — melhores recompensas para criadores, novos incentivos para CTOs e iniciativas que fortalecem projetos sustentáveis de meme coins. A competição vigorosa é o motor das melhorias contínuas no setor.