Recuse o pessimismo acerca das criptomoedas; já criámos um novo ecossistema financeiro de escala trilião

Ao longo do último ano, cada vez mais participantes nativos das criptomoedas têm-se mostrado desiludidos com o estado do setor, desvalorizando tanto as suas inovações como o valor da sua classe de ativos. Embora estas críticas coloquem questões pertinentes e evidenciem falhas reais no universo cripto, considero que o sentimento público se tornou excessivamente pessimista e apocalíptico.

No meu entender, o pessimismo cripto — ainda que muitas vezes bem-intencionado — transformou-se numa atitude perigosa e desalinhada, que predomina atualmente no setor. Este artigo pretende contrariar essa negatividade, revisitando a história dos pioneiros tecnológicos; a situação atual está longe de ser tão dramática como muitos sugerem.

Para começar, reconheço diversos desafios presentes no setor:

• A maioria dos tokens e modelos económicos apresenta falhas graves;
• O ingresso de programadores pouco qualificados diminuiu o valor dos melhores talentos;
• Proliferam esquemas fraudulentos e projetos desenhados sobretudo para ganhos financeiros imediatos;
• A percentagem de protocolos verdadeiramente valiosos no ecossistema cripto é baixíssima;
• Tokens com verdadeiro potencial de investimento são muito raros;
• Os mecanismos de governação dos protocolos continuam ineficazes;
• O setor acumula questões antigas ainda por resolver.

Estes problemas resultam de contradições fundamentais:

• O setor atravessa um período de incerteza regulatória;
• As criptomoedas eliminaram praticamente todas as barreiras à criação e aquisição de ativos;
• No passado, o setor recompensou comportamentos negativos.

A boa notícia: estes desafios têm solução ou são fases inevitáveis num setor aberto e em maturação.

Na minha opinião, o aumento do pessimismo cripto resulta principalmente da dificuldade crescente dos participantes em alcançar retornos elevados. Esta realidade gera maior frustração e impaciência.

Este fenómeno não resulta da falta de inovação, mas sim das características estruturais da classe de ativos cripto.

Reveja-se o que já foi conquistado:

Estes produtos cripto atingiram o product–market fit (PMF) ou abriram caminho para que os seus segmentos o alcancem. Embora sejam ainda poucos, cada ciclo de mercado — suportado por melhor infraestrutura e maior conhecimento do setor — gera produtos cada vez mais relevantes.

Alguns veem estas conquistas e compreendem que o amadurecimento exige tempo, reconhecendo que o crescimento do setor não é tão sombrio como se chegou a recear. Outros, porém, desvalorizam estes feitos.

Se é dos céticos, veja abaixo:

Reconhece estas páginas? Provavelmente não. São homepages antigas de empresas pioneiras da era dot-com — muito distantes da internet atual.

Eis um exemplo da Wikipedia de empresas cotadas do setor da internet que desapareceram após o crash dot-com:

Na verdade, o número de empresas falidas foi muito superior — milhares de empresas privadas, com impacto severo nos retornos do capital de risco.

Pelo lado positivo, o setor também deu origem a gigantes como:

• Amazon — fundada a 5 de julho de 1994;
• Netflix — fundada a 29 de agosto de 1997;
• PayPal — fundada em dezembro de 1998;
• Google — fundada a 4 de setembro de 1998;

Meta (antiga Facebook) — fundada a 4 de fevereiro de 2004.

Porque são as dores de crescimento das criptomoedas tão intensas?

Da mesma forma, embora a inteligência artificial seja atualmente celebrada como tecnologia de rutura e caso de sucesso, dentro de uma década enfrentará inevitavelmente uma filtragem de sobrevivência — onde apenas algumas empresas dominam e a maioria desaparece.

Estes são os principais startups israelitas de IA em 2020 — poucas sobreviverão nos próximos anos.

Se 99,9 % dos participantes são excluídos em cada setor tecnológico avançado, por que razão a dor nas criptomoedas é tão mais intensa?

A principal razão: tornámos praticamente todos em investidores de capital de risco. Cada projeto lança um token negociável publicamente; multiplicámos os alvos de investimento e permitimos que qualquer programador contorne o processo tradicional “seed → privado → IPO”, lançando startups investíveis sem due diligence.

Isso expõe os investidores de retalho aos riscos de uma classe de ativos com baixíssima taxa de sucesso, amplificando o pessimismo no setor cripto.

Imagine que cada fundador da era dot-com podia lançar um ICO junto de investidores de retalho, apenas com um produto mínimo, saltando o financiamento tradicional — e até recorrer a plataformas de especulação pura como Pump.fun, dispensando o produto por completo. Não surpreende que tantos tokens cripto desvalorizem 90 % ou mais.

O que alcançou realmente o universo cripto?

Há dezasseis anos, o Bitcoin era o sonho cypherpunk de um fundador anónimo. Hoje, é um ativo de 2 biliões $.

Ao longo da última década, desde as plataformas de contratos inteligentes programáveis, foram alcançados os seguintes marcos:

• Construção de uma rede peer-to-peer robusta face a riscos globais, protegendo centenas de milhares de milhões $ em ativos;
• Melhoria da performance da rede, permitindo criação de ativos permissionless com um clique e volumes diários de negociação spot em DEX na ordem dos milhares de milhões $;
• Capacitação de utilizadores em todo o mundo para deter dólares tokenizados e transferir qualquer montante instantaneamente, praticamente sem custos;
• Transferência de empréstimos, rendimento passivo e outros instrumentos financeiros para on-chain;
• Criaram-se bolsas de derivados transparentes, sem fronteiras e sem KYC, com volumes a rivalizar com a Robinhood, revertendo quase toda a receita para os detentores de tokens;
• Transformação da estrutura de mercado, com novas formas de negociar ativos, abrir e fechar posições, e novas classes como prediction markets e perpetuals;
• Tornaram-se realidade NFTs de seis dígitos (JPEGs);
• Desenvolveram-se comunidades online dinâmicas e por vezes absurdas, levando tokens-meme a valorizações superiores à de empresas cotadas;
• Pioneirismo de novos modelos de financiamento, como ICOs e bonding curves;
• Exploração dos limites da privacidade financeira e monetária.

Como costumo afirmar: hoje qualquer pessoa com acesso à internet tem uma alternativa ao sistema financeiro tradicional — aquele a que está sujeita devido à nacionalidade. É uma alternativa jovem, mas mais livre, aberta e dinâmica.

Todos os anos, o mercado oferece oportunidades para adquirir tecnologia transformadora a valores fortemente descontados — importa apenas filtrar o que é relevante.

Do nosso ponto de vista, já estão a surgir gigantes de dimensão FAANG (Facebook, Amazon, Apple, Netflix, Google) no universo cripto, e a cada um ou dois anos surgirão mais concorrentes.

Pensamento exponencial: repensar o futuro das criptomoedas

Costumo citar o seguinte para ilustrar a evolução do setor:

“A nossa intuição sobre o futuro é linear, mas a realidade das tecnologias de informação é exponencial — e essa diferença é tudo. Trinta passos lineares levam-me ao 30; trinta passos exponenciais levam-me a mil milhões.” — Ray Kurzweil

Esperamos que as criptomoedas cresçam de forma constante todos os anos, canalizando capital para incontáveis ativos especulativos, na expetativa de superar os retornos do ano anterior.

Esta expetativa traz inevitavelmente desilusões e perdas, mas não justifica um discurso alarmista permanente nem a negação dos feitos do setor. Todos os setores tecnológicos amadurecidos enfrentaram dores de crescimento — as criptomoedas sofrem mais porque todos estão financeiramente envolvidos.

Olhar em frente: a inovação pode surgir de repente

Ninguém sabe exatamente como será a próxima década, e duvido que a inovação obedeça a calendários previsíveis. Haverá anos de estagnação, seguidos de avanços súbitos. Estou convicto de que, em três anos, o número de protocolos com product–market fit (PMF) poderá passar de sete para vinte.

Se quiser saber como evoluiu a internet: após o crash das dot-com, foram precisos 15 anos para o setor recuperar.

Hoje, todos sabemos o que aconteceu após a recuperação: a internet transformou o mundo.

Atualmente, enquanto as gerações mais velhas, Wall Street e as autoridades reguladoras finalmente reconhecem e respeitam as criptomoedas, muitos dos primeiros participantes perderam a fé no propósito do setor. Discordo plenamente.

O Bitcoin continua a ser ouro digital. Continuamos a criar novas ferramentas financeiras. Continuamos a contribuir para um mundo mais justo e diverso.

Para muitos de nós, investidores, continuam a existir oportunidades para superar o mercado. Mantenha-se otimista quanto às criptomoedas.

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